Laser da Shopee ou Laser Terapêutico?
- Liangrid Nunes Barroso Rodrigues
- 20 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de set.
Descubra a diferença entre o Laser de R$9,90 do Laser que realmente trata na rotina clínica

Outro dia, conversando sobre os efeitos da fototerapia com um colega veterinário, ele me fez uma pergunta muito relevante: “Aquele laser baratinho da internet não faz o mesmo que o laser que vocês usam na terapia?”
E confesso: quando comecei a estudar fotobiomodulação, essa dúvida também passou pela minha cabeça.
A resposta curta é: não, não é a mesma coisa. A resposta boa precisa de contexto — e é isso que quero te mostrar aqui.
Por que não é tudo igual?
1) Comprimento de onda
Na fotobiomodulação, trabalhamos principalmente com vermelho (≈630–660 nm) e infravermelho próximo (≈780–940 nm), faixas que interagem com cromóforos celulares e conseguem atingir diferentes profundidades de tecido. Ponteiros baratos geralmente emitem apenas vermelho visível (e sem especificação confiável), o que limita a penetração — ainda mais em pele pigmentada e sob pelagem.
2) Potência e irradiância
Terapia exige densidade de potência (mW/cm²) suficiente para entregar dose em um tempo clínico razoável. Um ponteiro comum tem ≤5 mW e um feixe minúsculo e divergente. Isso resultaria dose baixa e tempo interminável para qualquer área útil.
Regrinha de bolso (sem sofrimento com a física)
Energia (J) = Potência (W) × Tempo (s)
Dose (J/cm²) = Energia (J) ÷ Área (cm²)
Exemplo prático: Quanto tempo levaria para uma caneta de 5 mW entregar apenas 4J em um único ponto? E uma de 100 mW ?
Resposta:
5 mW = 13 min 20 seg
100 mW = 8 segundos
👉 Isso é por 1 cm². Se a lesão tem 4 cm², a mesma dose (4 J/cm²) exigirá 4× mais tempo em cada equipamento.
3) Dose (energia por área)
Na prática clínica, falamos em J/cm² (CLASSE 4) ou J/ponto (Classe 3B). Sem controle de potência, área do feixe e tempo, você não dosa, você chuta. Dispositivos terapêuticos permitem ajustar e repetir protocolos com reprodutibilidade.
“Mas LED funciona?”
O que manda na fotobiomodulação é faixa espectral, dose e irradiância, não “misticismo do LASER”. Bons LEDs podem ser eficazes quando entregam os parâmetros corretos. A diferença é que equipamentos terapêuticos (sejam laser ou LED) são projetados para entregar dose com controle, uniformidade e segurança. O “laser de R$ 9,90” não.
Na rotina clínica: como isso muda o desfecho?
Feridas superficiais / dermatologia: vermelho costuma ir bem; dose típica baixa a moderada, sessões curtas e repetidas.
Tecido profundo / osteoarticular: infravermelho próximo é preferível; doses maiores, atenção a pelagem/pigmentação e ao acoplamento.
Pós-operatório e dor: protocolos ajustados ao tecido-alvo e ao tempo de evolução; consistência entre sessões é o que dá resultado.
Como explicar isso ao tutor em 20 segundos?
- “Com ponteiro comum, a luz não chega nem na dose nem na profundidade adequadas.”
Para levar: o essencial
Fotobiomodulação não é qualquer luz: é comprimento de onda + dose + irradiância + técnica.
Ponteiro barato não substitui dispositivo terapêutico.
Consistência de parâmetros = previsibilidade clínica.
Autoria:
M.V. Liangrid Nunes. B. Rodrigues
CRMV-SP 61.681
Graduada Medicina Veterinária no Centro Universitário de Jaguariúna (Unifaj); Voluntária no Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares (NEPI) da Unifaj em 2020. Bolsista na Clínica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário Unieduk, de Jaguariúna 2020-2022. Aprimoramento em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais pelo Hospital Escola Veterinário de Americana (FAM) (2023 -2024). Assistente de pesquisa e desenvolvimento na Eccovet com foco em Biofotônica e Fotobiomodulação.




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